O Real, a moeda oficial do Brasil que foi lançada em 1º de julho de 1994, está perto de completar 30 anos e de iniciar uma nova fase entrando ‘de cabeça’ na economia digital com sua versão digital, o Drex
O Real, a moeda oficial do Brasil que foi lançada em 1º de julho de 1994, está perto de completar 30 anos e de iniciar uma nova fase entrando ‘de cabeça’ na economia digital com sua versão digital, o Drex, CBDC (moeda digital de banco central) que o Banco Central pretende lançar no final deste ano e que atualmente está em fase de testes.
Ao longo de sua jornada, o Real amarga ter perdido seu valor e poder de compra, motivada por uma inflação acumulada no período de mais de 677.50%. Assim, R$ 1,00 em 1994, equivale hoje a R$ 0,12 e R$ 100,00 em 1994 equivale hoje R$ 12,00.
“A inflação do período corrige os salários anualmente através dos dissídios, o que reduz essa sensação de perda, mas em síntese, podemos dizer que perdemos muito o poder de compra do Real ao longo dos anos”, destacou ao Cointelegraph Alessandro Azzoni, economista, advogado e conselheiro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Para ter uma noção mais clara da desvalorização do Real no poder de compra do brasileiro, em 1994, quando o Real foi lançado, o arroz custava R$ 0,64 o quilo, hoje em torno de R$ 3,94, uma alta de 479,41%. No caso do feijão, o kg custava R$ 1,11 em 1994 e, atualmente, em torno de R$ 8,90, alta de 700,9%.
Assim que o Real foi lançado, havia paridade com o dólar, ou seja, com R$ 1 era possível comprar US$ 1, hoje, US$ 1 equivale a R$ 4,97. Portanto, a desvalorização da moeda brasileira em relação ao dólar foi de 397%
No entanto, apesar da desvalorização da moeda, o Real foi fundamental para a era de estabilidade monetária após anos de hiperinflação galopante que assolava o Brasil. Antes do Plano Real, a inflação no Brasil atingiu níveis astronômicos.
Durante os anos 1980 e início dos anos 1990, a taxa mensal de inflação ultrapassava frequentemente os três dígitos, chegando a patamares de até quatro dígitos em alguns momentos. Em 1989, por exemplo, a inflação anual atingiu 1.782%, e em 1990, foi ainda mais alarmante, chegando a 2.477%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O Real foi o plano que trouxe a estabilidade monetária para o Brasil, ou seja, nos anos anteriores diversos planos foram criados, mas não conseguia frear a inflação e o governo para honrar os pagamentos dos títulos públicos emitia moeda e com isso a quantidade de moeda sempre ampliava fazendo com que nosso dinheiro não tivesse valor, o Plano Real que trouxe o Real conseguiu frear e criar um padrão monetário seguro”, destaca Azzoni.
O economista aponta também que com o Real, o brasileiro voltou a ter poder de compra e anos com inflação baixa e períodos com deflação. Ele destaca que o controle dos gastos públicos também foi importante, pois não poderia haver novas emissões de dinheiro.
“Esse novo modelo econômico possibilitou emissão de títulos da dívida pública no mercado internacional, com isso conseguimos fazer a reserva internacional que na época chegou a US$ 65 bilhões, e hoje estamos com uma reserva internacional por volta dos US$ 340 bilhões. Isso cria um colchão de liquidez. Por este motivo, podemos dizer que o plano de estabilização econômica/Real foi responsável por colocar o Brasil dentre as maiores economias do mundo”, afirma.
O Plano Real foi uma iniciativa ousada concebida para estabilizar a economia brasileira e restaurar a confiança dos cidadãos no sistema financeiro. Sob a liderança do então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e da equipe econômica encabeçada pelo economista Persio Arida, o plano enfrentou uma grande tarefa: domar uma inflação descontrolada que corroía os salários e minava a confiança dos investidores.
Em 2024, quase 30 anos depois de seu lançamento, o Real enfrenta outro desafio: a economia digital. Liderando pelo atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a moeda nacional começou sua jornada para esta nova era e o Pix talvez seja atualmente a forma digital de dinheiro mais reconhecida e usada pelos brasileiros.
Dados do Banco Central apontam que os brasileiros vêm transacionando mais de R$ 4 bilhões pelo Pix mensalmente, com mais de 711 milhões de chaves registradas.
Integrante da agenda BC#, o Pix, faz parte de um projeto audacioso (tal qual o de 1994) para colocar a moeda nacional na vanguarda da economia digital e habilitar um completo ecossistema de contratos inteligentes no sistema financeiro nacional. O BC chama esta revolução de ‘dinheiro inteligente’ e envolve, a união entre o Drex, Pix, Open Finance e o Agregador Financeiro, que deve mudar totalmente a lógica do sistema financeiro nacional.
“Se nós fizermos uma retrospectiva da evolução do sistema financeiro nos últimos 40 anos, nós vamos ver que o Brasil foi um dos países que mais evoluiu no mundo. E por que isso? Porque nós passamos de uma etapa de inovações meramente incrementais, como a eletronização de certas transações, dos caixas eletrônicos aos cartões, dos cartões, depois nós tivemos a digitalização das contas, abertura de contas.
Nós passamos desse cenário por um cenário de disrupção, que começou com o movimento das fintechs, que passou pelo PIX e pelo open finance, que está chegando à economia real com a tokenização de ativos” afirma ao Cointelegraph, Fabiano Jantalia, sócio do Jantalia Advogados e especialista em Direito Bancário.
Jantalia afirma que o Brasil, com a nova era do Real, algo como Real 2.0, está criando novos modelos de negócios baseadas numa melhor e mais eficiente incorporação das tecnologias ao dia a dia das transações econômicas e financeiras no Brasil.
Ele aponta que em todos os foros de debates internacionais, o PIX é destaque e que todos falam do Brasil como uma referência na criação de meios mais eficientes, mais ágeis e mais seguros de transações financeiras.
“O Brasil hoje é um modelo para o mundo, o PIX é hoje um modelo para o mundo. O Open Finance também é uma inovação importante, na medida em que ele permite romper aquela que era a última barreira da competição dos atores do sistema financeiro”, destaca.
Neste caminho de inovação o especialista destaca que o Drex, antes conhecido como Real Digital, é uma inovação tão disruptiva como foi o lançamento do Plano Real em 1994.
Segundo ele, com toda a evolução que tivemos no sistema financeiro nessas últimas décadas, nenhuma delas se compara ao grau de disrupção, inventividade e de modificação das relações econômicas financeiras como o DREX.
“É importante dizer que não se trata apenas de uma moeda digital ou de uma moeda eletrônica. O DREX é um instrumento que vai permitir a definitiva digitalização de ativos e, mais do que isso, vai criar a oportunidade de desenvolvimento de novos modelos de negócios da economia real”, disse.
Ele destaca que a tokenização e o ecossistema de tokens RWA que o Drex vai permitir florescer no Brasil, em um sistema regulado, será inovador e vai possibilitar o desenvolvimento de modelos de negócio absolutamente distintos daqueles que conseguimos observar hoje.
“Com o DREX e a tokenização, os contratos inteligentes vão garantir agilidade no pagamento e transferência de veículos, o mesmo vai ocorrer com as transações imobiliárias, e, portanto, ele será, no âmbito do sistema financeiro e da economia real, a maior revolução que tivemos e teremos nas últimas décadas”, aponta.
Fonte: Cointelegraph Brasil